A decisão do presidente norte-americano Donald Trump de impor tarifas de 50 por cento sobre produtos siderúrgicos e minerais transformados do Brasil representa um abalo direto ao setor mineral, com potencial de causar perdas de até 2,2 bilhões de dólares por ano para o país. No epicentro dos prejuízos está o estado do Pará, onde operações da Vale como Salobo, Sossego e Carajás podem sofrer cortes produtivos, reavaliação de investimentos e impactos na geração de empregos.
O setor de cobre brasileiro, com produção concentrada nas operações da Vale em Carajás (Salobo e Sossego) totalizando 180,4 mil toneladas anuais, enfrentará impactos operacionais significativos. Com exportações para os EUA estimadas em US$ 400 milhões anuais, o custo adicional de US$ 200 milhões eliminará a competitividade frente a fornecedores alternativos. As operações de cobre, que requerem investimentos intensivos em tecnologia de processamento, podem ver seus planos de expansão reavaliados, especialmente o projeto de US$ 1,1 bilhão da Vale em Salobo.
Embora a maior parte do minério de ferro brasileiro vá para a China, o Sistema Norte da Vale, incluindo Carajás, pode sentir efeitos indiretos da medida. A interrupção nas cadeias globais de produção de aço pode levar à volatilidade de preços, afetando a rentabilidade e operação de uma das maiores minas de ferro do mundo.
Outro setor fortemente ameaçado é o de alumínio, cuja cadeia produtiva tem forte presença no Pará. O Brasil fornece 59 por cento da alumina importada pelos Estados Unidos, com faturamento anual de cerca de 600 milhões de dólares. A tarifa pode provocar uma queda de até 300 milhões de dólares, comprometendo refinarias localizadas no estado, que já operam com margens estreitas por causa do alto custo energético.
Além das perdas comerciais, os efeitos se espalham por toda a cadeia de fornecedores. Entre 1.500 e 2.000 empresas ligadas à manutenção, tecnologia, transporte e insumos industriais podem ser impactadas com a retração da atividade mineral. A Província Mineral de Carajás, uma das maiores do planeta, concentra grande parte dessa estrutura.
Com o Pará respondendo por 27,1 por cento das exportações minerais brasileiras, o risco é claro: perda de receita, ociosidade industrial e corte de empregos diretos e indiretos. A estrutura de custos da mineração brasileira, com custo operacional médio de 25 a 35 dólares por tonelada para o minério de ferro e até 3.500 dólares por tonelada para o cobre, não comporta uma tarifa tão elevada sem danos econômicos profundos.
Diante do cenário, o Brasil enfrenta não apenas uma disputa comercial, mas uma crise estratégica para o setor mineral. E o Pará, que é vital nesse contexto, pode ser o maior prejudicado.