A segunda onda de fumaça em menos de dois meses sobre Manaus e arredores tem sido o pivô de uma inusitada rusga política na Região Norte. Sob intensa pressão e cobrança nas redes sociais, o governador do Amazonas, Wilson Lima (União), decidiu atribuir publicamente o problema ao estado do Pará, comandado por Helder Barbalho (MDB).
O fenômeno, que já dura mais de uma semana, tem provocado transtornos como problemas respiratórios, a diminuição da visibilidade e até o cancelamento de voos em Manaus.
A “guerra da fumaça” começou na última quinta-feira (2), quando Lima foi às redes sociais falar sobre a crise.
“Essa fumaça que está vindo aqui, ela está vindo do estado vizinho, do estado do Pará, que, nesse momento, também começa a sofrer os efeitos da estiagem, uma seca histórica em que a gente tem esses problemas de desmatamento e de queimadas”, disse Lima.
Depois de afirmar que o Amazonas tem conseguido reduzir os focos de queimadas desde outubro, Wilson Lima sugeriu que o estado vizinho não tem feito o dever de casa.
“Nosso estado tem 97% de cobertura vegetal e, hoje, o que nós sofremos é uma injustiça climática. Não somos nós os causadores dos problemas que nós estamos enfrentando.”
De acordo com cientistas e ambientalistas, a principal causa da onda de fumaça é a estiagem histórica que afeta a região amazônica, agravada pelo fenômeno do El Niño. Nessas condições, os efeitos das queimadas ilegais são potencializados.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que acompanha as queimadas no Brasil desde 1998, esta temporada de queimadas no Amazonas só é superada pelos números de 2022 na série histórica do Inpe. A fumaça atinge tanto cidades do estado quanto do Pará, e ainda não há consenso sobre sua origem. No mês passado, queimadas no território amazonense também levaram o fenômeno para o estado vizinho de Rondônia e sua capital, Porto Velho. Mas é verdade que a quantidade de focos de incêndio vem diminuindo no Amazonas e subindo no Pará. O estado de Wilson Lima passou de 6.991 focos em setembro para 3.858 em outubro, enquanto no Pará subiu de 9.507 para 11.378 no mesmo período. E também é fato que, nos oito primeiros dias de novembro, o Amazonas teve 135 pontos de calor e o Pará, 2.314.
O número de focos de calor no território paraense também subiu de 9.507 para 11.378 entre setembro e outubro.
Helder Barbalho não respondeu publicamente, mas, procurado pela equipe do blog, sua Secretaria de Meio Ambiente rebateu a versão de Lima.
“O Pará não tem confirmação de que a fumaça em Manaus seja proveniente do estado”, afirmou, em nota.
A secretaria paraense disse ainda que reforçou as equipes que atuam na prevenção e combate a incêndios florestais e alega que já conseguiu reduzir a ocorrência de queimadas, além de monitorar os municípios com maior número dos focos de calor.
Culpar o vizinho, porém, não faz a fumaça desaparecer de Manaus e arredores e nem aplaca as críticas generalizadas a Wilson Lima pela falta de respostas nas redes sociais.
Como parte de sua estratégia para empurrar a responsabilidade para o colega paraense, Lima chegou a dizer que ofereceria brigadistas do Corpo de Bombeiros do Amazonas para ajudar a enfrentar as queimadas no Pará.
Mas o próprio estado enfrenta um déficit de mão de obra tanto no Corpo de Bombeiros como na Polícia Militar do estado.
Depois da segunda onda de fumaça, o governador decidiu convocar 200 novos bombeiros, metade dos aprovados em um concurso realizado em 2021, e está sob pressão para nomear os outros 200.Ainda assim, não conseguiu diminuir a revolta da população. Na última quarta-feira, após anunciar o envio de cinco bombeiros para cada um dos 21 municípios amazonenses com maior incidência de queimadas, o governador voltou a ser alvo de críticas nas redes.
Ainda assim, não conseguiu diminuir a revolta da população. Na última quarta-feira, após anunciar o envio de cinco bombeiros para cada um dos 21 municípios amazonenses com maior incidência de queimadas, o governador voltou a ser alvo de críticas nas redes.
“Dá tempo de apagar ainda. Tá passando vergonha. Cinco bombeiros para cada município”, lamentou um perfil no Instagram.
Fonte: O Globo