A discussão entre dois homens, supostamente por dívida, culminou na trágica morte de um menino inocente na zona rural de Marabá
Alisson foi morto a facadas em confusão por dívida / Foto: Divulgação |
Uma confusão que teria sido originada por conta da cobrança de uma dívida terminou com o assassinato a facadas de uma criança de apenas um ano e seis meses. O crime bárbaro aconteceu por volta de 22h30 de ontem, domingo, 4, no Projeto de Assentamento Raylândia, no sentido Vila Abani, no município de Marabá e a 60 quilômetros de Parauapebas, na área conhecida como Contestado.
A criança, um menino identificado como Alisson Andrade Silva, levou duas facadas nas costas e morreu na estrada, a caminho de Parauapebas. As facadas, segundo o pai e a mãe da criança, Antonilson Moreira Silva, de 36 anos, e Leny Andrade Lima, foram desferidas por Emivaldo Costa, conhecido na localidade como “Seu Nego”.
Emivaldo Costa, acusado de matar a criança friamente a facadas/Foto: Ronaldo Modesto |
O delegado Felipe Oliveira já começou a colher informações para tentar saber exatamente o que aconteceu na localidade e resultou na morte da criança. O pai e a mãe têm versões desencontradas e o acusado do crime também.
“Seu Nego” e Antonilson, que saíram feridos, iam passar por cirurgia na manhã de hoje, segunda-feira, 5, no Hospital Municipal de Parauapebas (HMP). Emivaldo, segundo o policial militar Wanderlan Santos Silva, que atendeu à ocorrência no HMP, está com um ferimento no ombro direito e com três balins provenientes de tiro de espingarda no abdômen.
Já Antonilson está com um ferimento por facada no peito, que teria sido desferida por “Seu Nego” quando este tentava tirar o filho das mãos dele, no momento em que ameaçava matar a criança. De acordo com o policial militar, Antonilson contou que Emivaldo teria tentado invadir a casa de um vizinho dele e ele foi tentar impedir.
No meio da confusão, “Seu Nego” pegou a criança e ficou usando como escudo humano e ameaçando matá-la. Ele foi tentar tirar a criança das mãos de Emivaldo e foi atingido com uma facada no peito, depois com pura crueldade, “Seu Nego” deu duas facadas nas costas da criança.
Por outro lado, Emivaldo diz que foi cobrar uma dívida que Antonilson tem com ele, que seria no valor de R$ 70,00. Houve desentendimento entre eles, aconteceu a briga e os dois, armados de faca, se agrediram e no meio da confusão a criança foi atingida. Mas a mãe da criança já conta uma terceira versão.
Leny Andrade diz que estava em casa, já dormindo com o filho, quando o marido chegou discutindo com “Seu Nego”. Toda confusão teria começado na casa de um vizinho deles. Ainda de acordo com Leny, os dois começaram a brigar e ela entrou no meio e conseguiu apartá-los. Pouco depois, “Seu Nego” pegou uma faca e entrou na casa deles e a pegou pelo braço.
Ela conta que implorou que ele não fizesse nada com ela. Agindo por impulso, Leny relata que deu um soco em Emivaldo e conseguiu se soltar dele. Pouco depois já chegou outro homem, que ela não identificou, com uma espingarda e desferiu um tiro em Emivaldo. Foi nessa, afirma a mulher, que “Seu Nego” pegou o filho dela, que estava dormindo em um colchão, e passou a usar a criança como escudo.
Leny Andrade diz que filho dormia, quando foi pega por “Seu Nego” para ser usada como escudo humano/ Foto: Ronaldo Modesto
“Eu fui em cima dele tentar pegar meu filho, mas ele apontou a faca para mim. Meu marido também foi em cima dele e, nessa hora, ele furou ele no peito. Depois levantou meu filho e deu duas facadas nas costas dele. Eu saí correndo desesperada, pedindo socorro aos vizinhos”, detalha Leny, dizendo que a cena aconteceu não dentro da casa dela, mas na rua.
Ainda de acordo com ela, após esfaquear o menino, “Seu Nego” ainda o jogou de forma violenta no chão. Ela diz ainda não saber o que motivou a briga entre o acusado e seu marido. “A confusão começou na casa do vizinho, por isso eu não sei”, afirma, dizendo que seu marido realmente deve a Emivaldo, mas é R$ 50,00.
Leny observa que, durante a briga, “Seu Nego”, com a faca nas mãos, colocou sua carteira porta-cédulas em cima da mesa deles e disse que tinha R$ 1 mil e, que depois de matá-los, ia fugir do local. “Eu tenho medo que, se ele for solto, volte e mate eu e meu marido”, teme a mulher.
O menino era filho único do casal. Depois do crime, moradores vizinhos do casal tentaram agredir o acusado, que foi socorrido, segundo Leny, por um homem conhecido como Roberto, que o trouxe para o Hospital Municipal de Parauapebas.
A criança e o pai dela foram socorridos por Itânio Melo Moreira, que mora na mesma rua onde aconteceu a tragédia. Evangélico, Itânio lembra que após o culto da sua igreja ficou conversando com alguns irmãos e depois foi para casa.
Por volta de 22h30 ele e a mulher começaram a escutar gritos e choro de criança. “Minha mulher me disse que algo estava acontecendo com os vizinhos, mas eu ressaltei que a criança poderia só ter caído, por isso estava chorando. Pouco depois, a vizinha chegou já pedindo ajuda, dizendo que “Seu Nego” estava ameaçando matar o filho dela. Eu corri, guiado pela lanterna do celular, porque não há iluminação na rua, e quando cheguei na casa a criança já estava agonizando no chão e o pai dela, desesperado, gritando que “Seu Nego” tinha matado o filho dele”, relata.
Segundo Itânio, ele voltou para casa, pegou o carro e prestou socorro ao pai e à criança. O menino veio no colo do pai, mas no meio da estrada deu o último suspiro. “Ele morreu no colo do pai. Cena muito triste. A gente não sabe o que o ser humano é capaz de fazer. Uma dívida, uma agressão, nada, nada justifica uma pessoa matar uma criança, nada”, desabafou Itânio, às lágrimas.
Chorando, Itânio Moreira conta que foi ele quem socorreu pai e filho feridos por “Seu Nego”/ Foto: Ronaldo Modesto
Tanto o pai da criança como o agressor estão sendo guarnecidos por policiais militares no Hospital Municipal. Assim que tiverem alta, serão apresentados na delegacia.
Segundo informações de Leny, “Seu Nego” já tem passagem pela polícia. O delegado Felipe Oliveira está levantando essas e outras informações no inquérito que investiga o assassinato do menino Alisson Andrade, morto de forma cruel.
(Tina Santos – com informações de Ronaldo Modesto) Correio de Carajás