Alegoria da Mangueira mostra negro, índio, mulher e LGBT crucificados na Sapucaí
Rainha de bateria se inspirou no enredo “A verdade vos fará livre” para cruzar a Sapucaí na noite deste domingo (23). Evelyn Bastos surpreendeu a Marques de Sapucaí na noite deste domingo (23) ao surgir caracterizada de Jesus Cristo. A rainha de bateria da Estação Primeira de Mangueira fez questão de interagir com o enredo deste ano, “A verdade vos fará livre”. “O Leandro [Vieira, carnavalesco da escola] e eu conversamos várias vezes para chegar nessa fantasia. Foram várias as possibilidades até chegar nessa concepção. Era algo que a gente queria muito, trazer Jesus como mulher. “Então, a gente pensou em fazer um Jesus mulher, tapado. Não vai ser um Jesus que samba. Vai ser um Jesus sem a necessidade de sexualizar. Vai ser ser um Jesus que não samba, porque a gente quer que as pessoas enxerguem Jesus primeiro, independente de gênero.” A Mangueira levou para Sapucaí no domingo uma alegoria em que aparecem crucificados um homem negro, um indígena, uma mulher e um representante da população LGBT. O carro, batizado de “O Calvário” pelo carnavalesco Leandro Vieira, contém uma cruz de 20 metros na qual está pregada a escultura de um homem de cor preta. Acima dele, a inscrição “Negro” substitui “INRI”, grafada na cruz em que Cristo foi morto. Ao redor, há cruzes menores em que estão os outros personagens, representados por pessoas.
A alegoria foi a última a ser finalizada no barracão da Mangueira, na Zona Portuária do Rio. Para evitar polêmicas antecipadas e driblar uma eventual tentativa de censura por parte de grupos religiosos, Leandro Vieira deixou para incluir a escultura do homem negro no carro somente na semana que passou. Os testes da estrutura, que se levanta durante a passagem pelo Sambódromo, também ocorreram em segredo: os traços da escultura, que difere da representação pela qual se conhece Jesus comumente, foram ocultados por plásticos pretos quando os treinos aconteciam na área externa ao barracão.